|Crítica| 'Missão: Impossível - O Acerto Final' (2025) - Dir. Christopher McQuarrie
Crítica por Victor Russo.
![]() |
'Missão: Impossível - O Acerto Final' / Paramount
|
Em filme sobre Ethan Hunt, Christopher McQuarrie impede a substituição de Tom Cruise e dá luz à missão impossível do ator contra a inteligência artificial e os streamings por meio da ação
Antes de iniciar o filme, Tom Cruise aparece em vídeo ressaltando a necessidade de assistir a Missão Impossível: O Acerto Final nos cinemas. Até aí, nenhuma novidade, o ator é um dos principais defensores da experiência cinematográfica em Hollywood, posicionando-se constantemente contra a dominância do cinema de algoritmo dos streamings. O fato de Cruise aparecer sem o seu grande parceiro recente, Christopher McQuarrie (diretor de todos os Missão Impossível a partir do quinto, além de também assumir a direção de Jack Reacher, e roteirizar Top Gun: Maverick, Operação Valquíria e o mais recente A Múmia… já deu para entender que ele e o ator são inseparáveis), revela um tanto sobre o oitavo, e possivelmente último, longa da franquia. Muito se debate sobre esse ser ou não o fechamento dessa série de filmes que já dura quase 30 anos, o que perde de foco a real intenção do filme, já que qualquer comentário sobre o encerramento não passará de uma especulação, pois o filme nada define nesse sentido.
A questão então não é se essa é última vez que Tom Cruise viverá Ethan Hunt e sim a elevação definitiva sobre Tom Cruise ser Missão Impossível em si. Ou seja, volte ele ou não, o ator e McQuarrie estão dispostos a colocar um ponto final na possibilidade de continuar se fazendo obras no universo sem a presença de Ethan Hunt (muito se especulava desde o quinto filme sobre alguém do grupo assumir o protagonismo) ou, pior, com outro ator vivendo o personagem. Assim, se muitos críticos, jornalistas e influencers estão reclamando sobre o excesso de exposição do longa e, principalmente, pelas muitas inserções relacionadas aos demais filmes, com alguns personagens esquecidos retornando, inclusive, parece que muitos desses elementos que compõem a primeira hora e meia estão sendo perdidos. Não se trata exatamente de apenas uma nostalgia barata (ainda que tenha um valor nostálgico para aqueles que acompanham a série desde 1996), muito menos um retorno para encerrar amarrando tudo. Esse retorno ao passado com tom de retrospectiva vem acima de tudo para elevar ainda mais o papel de Hunt, ressignificando objetos e pessoas presentes em obras anteriores como uma forma de ligá-los ao protagonista, mais uma vez, reforçando esse caráter do personagem como a franquia em si. Não à toa, inclusive, por mais que o grupo ainda siga sendo fundamental e uma perda dos personagens mais antigos um tanto sentida, é o longa que mais individualiza a narrativa e boa parte das ações em Cruise, a ponto de apreciar e rir de cada corrida do ator, além de dar para ele longos minutos de uma set piece extremamente marcante e extensa, em que nenhuma outra pessoa ou cenário aparece em tela naqueles longos minutos.
Pode soar um pouco egoica essa narrativa disposta a centralizar tudo em um ator que sempre teve bastante controle de seus filmes e ainda mais dessa franquia. Seria uma autoexaltação de seus feitos apenas? Não, necessariamente. Ou melhor, não só isso. Se o ego de Cruise não se discute (e nem é um problema, na verdade), com McQuarrie isso é transformado em cinema, em uma cruzada pessoal do ator contra a dominância da inteligência artificial no cinema e na vida das pessoas por meio de um filme que ama o seu gênero. Quase como se Ethan Hunt vai salvar o mundo da I. A., Cruise quer livrar o cinema de um caminho que o afasta da arte e se transforma em uma replicação de algoritmos a partir de um banco de dados já existentes. Ainda que haja softwares que se utilizem dessa ferramenta na feitura de Missão Impossível: O Acerto Final, a valorização do filme são os feitos humanos, com destaque, claro, para as acrobacias do ator correndo risco de vida. A mensagem é clara, I. A. pode ser auxílio, nunca uma definidora do fazer cinema.
De novo, nada diferente do que já vimos antes, até porque é justamente o mesmo vilão da primeira parte. Aí que entra McQuarrie e sua habilidade de conduzir a obra com ritmo, tendo a montagem como sua principal aliada. Tudo ganha um caráter de urgência, fazendo A Entidade aqui ser o desafio mais impossível que Hunt e o grupo já enfrentaram por uma larga margem. Mais do que isso, nem essa primeira parte cheia de explicações de planos e situações e com trechos de filmes anteriores se torna realmente enfadonha como muitos jornalistas e influencers fizeram parecer. O longa sempre está em movimento, tem a ação como seu objetivo final, é nela que o discurso realmente ganha força. Ou seja, não basta dizer sobre os males da I. A. indiscriminada, tem que materializá-la em um desafio incrivelmente complicado para o grupo.
Assim, se a sequência do submarino mostra como o diretor é capaz de manter uma ação claustrofóbica durante vários minutos sem parar e se utilizando da montagem para ir diversificando esse espaço em constantemente mudança, obrigando Hunt a agir rapidamente a cada nova dificuldade mortal, no restante, quando o grupo se faz presente, a montagem é a maior aliada para combinar essa ampla gama de ações, personagens e espaços simultâneos que precisam convergir para um mesmo fim, temporalmente falando. É uma lógica do primeiro cinema de perseguição, dos anos 1910 e 1920, que McQuarrie refina e saboreia, enquanto cria uma escala jamais vista em toda franquia.